sábado, 4 de dezembro de 2010

Amazônia : Desnutrição entre índios de município no Acre está entre mais altas do mundo

Os índices de desnutrição entre crianças indígenas no município de Jordão, no Acre, estão entre os mais altos do mundo, aponta o pesquisador Thiago Santos de Araújo em sua tese de mestrado, finalizada recentemente. A falta de acesso a serviços básicos de saúde e o hábito cultural ajudam a explicar as taxas

Os casos mais emblemáticos estão entre indígenas de áreas rurais, onde a taxa de desnutrição avaliada foi de 59,4%. Para se ter uma ideia, esses índices chegam a 38% na África subsaariana e a 45% em algumas regiões no sudeste da Ásia, de acordo com Araújo. A taxa média é de 7% no Brasil e de 14,8% no Norte.

Foto: Thiago Santos de Araújo/ Arquivo Pessoal 
As medições para crianças indígenas vivendo na zona urbana apontaram taxas de desnutrição de 33,8%. Não indígenas de áreas rurais tiveram índice de 29,1% e, na zona urbana, a taxa foi de 19,3%, segundo o estudo.

O levantamento foi feito analisando altura, peso e estatura de 478 crianças no município de Jordão, das quais 193 eram indígenas, a maior parte da etnia kaxinawá. Todos os avaliados tinham até 5 anos de idade, diz Araújo, também professor na Universidade Federal do Acre (UFAC). "É o período mais crítico para o crescimento e a nutrição tem influência marcante no restante da vida".

A dificuldade de acesso a serviços de saúde ajuda a explicar os índices, segundo o pesquisador. "Na zona urbana, a maior parte da população tem água encanada. Mas na zona rural, toma-se água direto do rio". A ausência de saneamento básico em áreas rurais também intensifica os casos de desnutrição, lembra Araújo. "Isso facilita a propagação de doenças".

O padrão alimentar na zona rural também é específico, sobretudo entre os indígenas. "Jordão é isolado e não tem acesso por estrada, todos os alimentos chegam de barco ou avião. Na zona rural, as pessoas vivem do que plantam. A mandioca é o principal alimento, além do feijão, amendoim e da colheita de frutas e sementes, da caça de animais silvestres e da pesca", diz ele.

"Também não podemos descartar hipóteses de diferença genética de crescimento entre os indígenas", diz Araújo, segundo quem o hábito cultural do aleitamento materno também pode influenciar as taxas de desnutrição. "A média de aleitamento exclusivo é muito baixa na zona rural, são menos de 15 dias".

Para fazer a pesquisa, Araújo começou a colher dados em 2005, em um projeto que desenvolvia com o professor Pascoal Torres Muniz, da UFAC. Sua tese de mestrado buscou referências reais para provar a estimativa defendida pela pesquisadora Mariana Helena de Aquino Benício de que Jordão teria os mais altos índices de desnutrição do país

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